quarta-feira, 20 de maio de 2009



ANOREXIA: Imagens de Culto

Cultural e socialmente enraizado, o culto do “magro”, para não dizer “esquelético” ou “cadavérico”, é já uma predisposição natural que temos perante qualquer representação do ser humano. Pior, o “magro” confunde-se com o “belo”.

Não esqueçamos, contudo, que o "belo" constitui uma questão filosófica complexa que permanece no âmbito da apreciação subjectiva, dependendo também de padrões dinâmicos, que variam no tempo e no espaço. Deste modo, o que é belo para mim pode não o ser para outro, o que é belo para um oriental pode não o ser para um ocidental, e o que era belo no século XVIII hoje pode não o ser mais...

Por estarmos tão absorvidos pelos modelos da “cultura visual” que regem o nosso tempo, não questionamos antigos cânones espelhados nas obras barrocas, nem tampouco os valores que, pelo menos desde a Revolução Francesa, afirmam a igualdade entre todos os Homens, ou sequer a (auto)preservação da vida, simultaneamente um dever e um direito, desde cedo presente no legado ético e moral de Hipócrates.

Este novo paradigma do culto do corpo do Homem, trouxe consequências trágicas (perdoem-me o tom dramático e impregnado de apreciações pessoais) que se traduzem numa patologia, medicamente designada por Anorexia nervosa. Esta consiste numa disfunção alimentar, caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar e stress físico.

A anorexia nervosa é uma doença complexa, que envolve factores psicológicos, fisiológicos e sociais. Associa-se, em muitos casos, à Bulimia, também ela uma disfunção alimentar, que se caracteriza pela provocação do vómito.

Tanto uma como outra afectam, principalmente, jovens adolescentes do sexo feminino do Ocidente, muito embora abranjam ainda alguns rapazes e adultos/as. No caso dos jovens adolescentes de ambos os sexos, crê-se que poderá estar ligada a problemas de auto-imagem, dificuldade em ser aceite pelo grupo, e consequentemente de auto-estima.

Estes problemas existem, de facto, e tomam proporções assombrosas no seio de alguns seres. A sua origem não é difícil de descobrir: as imagens que os suportam estão espalhadas por TODO o lado e incutem subtilmente um conceito de "belo" que acabamos por tomar por universal e verdadeiro, logo natural...

Como consequência disto, a taxa de mortalidade da anorexia nervosa é de aproximadamente 10%, uma das maiores entre qualquer transtorno psicológico.

Sinto-me impelida a partilhar que, desde pequena, quando confrontada pela minha mãe (aquando de discussões relacionadas com padrões de beleza), esta me perguntava se o que eu gostava mais num rebuçado era o seu sabor ou o papel colorido que o envolvia, que me habituei a interiorizar como resposta certa “o seu sabor”.

Esta metáfora permanece hoje em mim como um exemplo de que a educação pode fazer milagres: e graças à sensibilidade de uma mãe (calhou ser a minha, e ainda bem!) sei que, embora iguais em direitos, cada ser é ímpar e, mais do que a carcaça que deixamos no túmulo, o que conta é o sabor do rebuçado!

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